Não raro os jornais traziam notícias das campanhas de “saneamento moral” no centro da cidade, nas quais as autoridades municipais procuravam varrer para as periferias da cidade a prostituição. Como vemos nesta reportagem que denuncia a permanência das caftinas e suas “mulheres da vida fácil”, tratava-se de um trabalho árduo.
“A localização do meretricio[1]
Como está sendo encarado esse problema pela autoridade competente
Muitas ruas centraes continuam ainda a ser habitadas por mulheres da vida fácil
Engana-se muita gente em acreditar haver sido resolvido o problema do meretrício em Porto Alegre.
A principio, esforçaram-se as autoridades em affastar do coração os prostibulos, que offereciam um espectaculo degradente aos olhos dos habitantes e forasteiros.
As mulheres de vida fácil foram localizadas nas ruas Espírito Santo e São João[2] e Beco do Oitavo[3] e travessa Cruzeiro e Bento Gonçalves[4].
A autoridade encarregada do saneamento moral da cidade resolveu, após, descançar sobre os louros dessa campanha.
E os efeitos desse cochilo não se fizeram esperar.
Algumas ruas centraes começaram a ser novamente invadidas por meretrizes, ocasionando esse facto reclamações das famílias.
Os jornaes chamaram a atenção da autoridade competente para esse abuso. Mas inutilmente.
O 1º delegado-auxiliar está cançado de dizer que não admite a interferência da imprensa em seus serviços…
Mas, enquanto o ‘zeloso’ delegado pensa dessa fórma, vamos apontando as falhas da actual campanha, chamando para ella a atenção do desembargador chefe de Polícia.
Limitamo-nos, hoje, a nos ocupar da rua General Bento Martins, a poucos passos, portanto, da redacção do ‘Estado do Rio Grande’.
Mapa localizando a rua Bento Martins, Google Maps.
De há muito, installaram-se naquella via pública, occupando os prédios ns. 150 e 176, várias meretrizes.
As famílias ali residentes [p]rocuraram fazer afastar da rua General Bento Martins esse mau elemento, nada conseguindo, porém.
O interessante é que há um mez, mais ou menos, apareceu naquela rua o delegado Cidade, que penetrou ao ‘antro’ da caftina Mimi, instalado no prédio n. 150.
A visita daquella autoridade ao ‘antro’ de Mimi, foi recebida com satisfação, pois julgava-se que ella iria enfim remover tal empecilho da rua Bento Martins.
Passaram-se mais quinze dias e a autoridade fez nova visita à casa de Mimi.
Até hoje, entretanto, aguardam os prejudicados a decisão do 1º delegado-auxiliar, que se limita somente a fazer visitas àquella casa de tolerância, e nada mais…
E é por isso eu muita gente anda enganada, julgando estar resolvido o problema do meretrício em Porto Alegre…
O ‘cliche’ que ilustra a presente noticia, mostra a antiga ‘Pensão Rosita’, hoje de propriedade da caftina Maria Batrochi.
Essa casa de tolerância – segundo nos informou a sua proprietária – é destinada somente às mulheres que trabalham no ‘Clube dos Caçadores’.
Maria Batrochi expulsou dali todas as nacionais, trocando-as pelas estrangeiras, as quaes, a seu vêr, lhes dão melhores lucros.
Ficou ella, pois, senhora do ‘meretricio’, visto haver desaparecido sua maior concurrente, Catharina Scuderoni”.
Autoria desconhecida.

Referências:
[1] Estado do Rio Grande, Ed00188, 03/06/1930, p. 06. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. A grafia original foi mantida.
[2] Rua dos bairros Azenha e Santana, curiosamente renomeada em homenagem ao Dr. Freitas e Castro, diretor da Higiene Municipal nos anos 1930.
[3] A atual avenida André da Rocha.
[4] Provavelmente a atual rua 24 de Maio, que liga a avenida André da Rocha à rua Duque de Caxias.