Prova de solidez do viaduto. Correio do Povo, 15/09/1931, p. 05. Arquivo Histórico Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho. ID

A prova de solidez do viaduto

Em setembro de 1931 vários jornais de Porto Alegre noticiavam o triunfante resultado da “prova de solidez” do viaduto Otávio Rocha, então ainda chamado de “viaduto da Duque de Caxias”. Entre eles, o Correio do Povo trazia uma pequena reportagem do dia dos testes, que foram feitos às 7 horas da manhã, fazendo passar caminhões e bondes carregados de pedras em alta velocidade sobre a construção. Não deve ter sido fácil para a vizinhança, mas o entusiasmo com a qualidade da construção resultante a reestabelecimento da circulação de bondes sobre a via é notável. Afinal, a obra que em meados da década de 1920 esperava-se finalizar em pouco tempo começava enfim a ganhar forma e funcionamento.

O momento dos testes de resistência do viaduto Otávio Rocha foi retratado na história em quadrinhos Viaduto

Prova de solidez do Viaduto na HQ
A prova de solidez do viaduto na história em quadrinhos “Viaduto” (Ed. Veneta, 2023). Bico de pena e aquarela sobre papel, 2021-2023. O desenho foi baseado na fotografia encontrada na reportagem deste post. 

O viaducto da Avenida Borges de Medeiros[1]

Hontem, com mais franco exito, foi feita a prova experimental da sua resistencia.

Os bondes da linha “Duque” voltarão a trafegar, hoje, de sete em sete minutos

O custo de tão importante obra andou em 600 contos de réis e o das tres rampas em via de conclusão em 2.200 contos de réis

Noticiámos, ha dias, que apesar de não estar ainda completamente terminado, seria franqueado ao publico, por todo o corrente mez, o viaducto de cimento armado construido á Avenida Borges de Medeiros.

Ha poucos dias, terminou ali a collocação da via permanente, por parte da Companhia Carris  de bonde Porto Alegrense, estando, tambem, em vias de conclusão, o calçamento que fica sobre o viaducto.

Faltando, apenas, para acabamento das obras, alguns trabalhos de ornamentação e retoques finaes, ficou resolvido realizar-se, ás 7 horas da manhã de hontem, a experiencia da

Prova de solidez

 

que consistiu nas medidas das flechas das differentes vigas. Uma prova foi feita com dois bondes carregados de cascalho, pesando cada um 19 toneladas. Além disso, utilisaram-se para esta prova mais seis caminhões carregados de pedra, tendo cada um cinco toneladas, ou sejam, 30 toneladas. Assim, o peso dos bondes e dos caminhões perfaziam um total de 68 toneladas.

A segunda prova consistiu na passagem a toda velocidade – sete pontos – dos bondes carregados, um dos quaes era dirigido pessoalmente pelo dr. Ary Abreu Lima, chefe da commissão fiscalizadora das obras.

Fotografias da prova de solidez do viaduto Otávio Rocha. Correio do Povo, 15/09/1931, p. 05. Arquivo Histórico Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho.
“Ao alto — Aspecto da experiência realisada pela manhã, vendo-se caminhões e bondes sobre o viaducto; Em baixo — Os drs. Fernando Martins e Ary de Abreu Lima, acompanhados de outros engenheiros que assistiram á experiencia.” Fotografias da prova de solidez do viaduto Otávio Rocha. Correio do Povo, 15/09/1931, p. 05. Arquivo Histórico Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho.

 

Os resultados

Com a primeira prova, não foi observada nenhuma deformação e, na segunda, a deformação de 1/10 milimetro, medido com o fleximetro.

Além disso, foi feita a medida do controla com os niveis, pelos engenheiros Pitta Pinheiro e Christiano Gilbert[2], por parte da prefeitura, e W. Stein, da firma constructora – a Dickeroff, Wiedmann e Cia.

Assistiram a todas as experiências, coroadas do mais franco exito, os engenheiros Ary de Abreu Lima, dr. Fernando Martins, secretario geral da prefeitura; engenheiro Benjamim Vinholes e Isidoro Lopes, da prefeitura, e Erwin Kurtz e M. Bischoff, da empreza constructora.

Pelo calculo, se devia achar uma flecha de 2,3 milimetros, e a obtida attingiu 1/10 de milimetro. Por isso, o resultado conseguido foi mais do que satisfactorio.

Damos, a seguir,

Alguns dados sobre o viaducto

que é uma das mais perfeitas obras de cimento armado que se fez em Porto Alegre, além de ser uma belissima construcção que em muito virá contribuir para o embellezamento da cidade.

O viaducto levou cerca de 1.000 metros cubicos de concreto, ou sejam 2.400.000 kilos de concreto. Gastaram-se 350.000 kilos de cimento, 80.000 kilos de ferro e foi feito em 30 horas continuas de trabalho.

O systema adptado foi um portico com tres vãos e dois pilares centraes, oscillantes e dois encontros articulados na base.

Tem elle 12 vigas, de 1,50 m de altura. O seu custo andou m 600 contos de réis, com os desaterros dos lados e enchimentos, não estando incluido nesse preço o corte da rua.

As rampas

As tres rampas se acham quasi promptas, sendo o seu custo de 2.200 contos de réis, inclusive os grandes muros de arrumos, escoramentos de casas, etc.

A quarta rampa começará a ser construída logo que se resolva a pendencia de desapropriação de terrenos necessarios a esse trabalho, entre a prefeitura e os drs. Normello Rosa e José Luiz de Sampaio.

As tres rampas ficarão promptas, provavelmente, até 14 de outubro próximo, dia em que serão entregues ao trafego, devendo então se encontrar calçada uma parte da rua que passa por baixo do viaducto, ligando a cidade baixa com o centro.

O trafego de bondes

Tendo se constatado as excellentes condições de solidez do viaducto e estando já assentada a linha permanente da Carris Porto Alegrense, esta resolveu que, a partir de hoje, voltem a trafegar os seus bondes da linha “Duque”, interrompidos ha mais de um anno em consequencia das obras que se realizavam.

Correrão eles de sete em sete minutos. Serão suspensos os auto-omnibus que faziam essa linha da parte alta da cidade”.

Texto não assinado.

 

Referências:

[1]Correio do Povo, 15/09/1931, p. 05. Arquivo Histórico Municipal de Porto Alegre Moysés Vellinho. A grafia original foi mantida.

[2]Certamente o autor refere-se ao arquiteto Christiano de la Paix Gelbert (1898-1984) então chefe da Seção de Desenho da Comissão de Obras Novas da Prefeitura.

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