Testes de papéis: Fabriano 5 satinado 300g 50% algodão

Esta foi a primeira página que peguei para testar, e está desenhada em papel Fabriano 5 300g 50% algodão. Até o momento, os papéis da Fabriano se revelaram os de melhor desempenho e resistência, e a linha Fabriano 5, por ser indicada para técnica mista, é especialmente adequada para páginas de quadrinhos.

Aqui, convém lembrar que, diferentemente de um papel que se tira do bloco diretamente para as pinceladas, o papel em que se vai desenhar uma página de quadrinhos passa por uma fase de intensa manipulação: esboços, apagadas, arte-final, etc. Tudo isso pode interferir no desempenho posterior do papel, lá no final da produção, que é a etapa de pintura, então pode não necessariamente refletir a qualidade do papel para pintura direta.

A página usada aqui é a de númeroo 34 do volume 6 da série Une génération française, em que trabalhei de 2016 a 2018 em parceria com o roteirista francês Thierry Gloris, e que foi publicada em 2017 e 2018 pelas Éditions Soleil.

A página 34 desenhada a lápis.
Une génération française T6, p. 34. Roteiro: Thierry Gloris. Desenho: Ana Luiza Koehler. Letreiramento: Ana Cláudia Soares. Publicado por Éditions Soleil, 2017-2018.
A página 34 arte-finalizada com bico de pena.
Une génération française T6, p. 34. Roteiro: Thierry Gloris. Desenho: Ana Luiza Koehler. Letreiramento: Ana Cláudia Soares. Publicado por Éditions Soleil, 2017-2018.

A linha Fabriano 5 é destinada a técnicas mistas (uso simultâneo de lápis, lápis de cor, carvão, aquarela, guache, etc.) os papéis que testei dela suportaram bem o processo. Naturalmente, alguns desgastes sob a forma de algumas linhas eventualmente borradas, ou alguma fibra levantada na hora de passar a borracha ocorrem. Mas não inviabilizam a colorização ou a qualidade final do trabalho.

Sendo um papel satinado, ou seja, de textura lisa, o Fabriano 5 300g 50% algodão tem uma textura delicada, porém não tão porosa quanto, por exemplo, o Canson Héritage satinado 300g. A vantagem dele é que se trata de um papel bom para desenhar, dada a sua textura, e que mantém a mancha com uma cor parecida com a cor que tem quando úmida. Isso é fundamental, pois em alguns papéis se tem muito pouco controle da diferença entre a aquarela ainda úmida e depois de seca, o que dificulta o planejamento da paleta de cores e sua distribuição. Isso felizmente não aconteceu com o Fabriano 5 satinado que testei aqui. A sua textura, apesar de delicada, não se alterou significativamente com a manipulação decorrente do processo de desenho, e as cores aplicadas também não se alteraram significativamente depois de secas. Provavelmente, isso se deve ao fato de que o pigmento se mantém mais na superfície, não ocorrendo o desbotamento da cor ao ser absorvida. Isso é especialmente importante para a manutenção das cores escuras, pois os contrastes tonais ajudam a definir as formas e dar profundidade de campo a cada quadro.

A página 34 desenhada aquarelada. Deixei o quadro 3 sem cores pois a primeira camada do tom de verde dominante ficou muito saturada.
Une génération française T6, p. 34. Roteiro: Thierry Gloris. Desenho: Ana Luiza Koehler. Publicado por Éditions Soleil, 2017-2018.

A esse respeito, também observei que, na aplicação de uma segunda ou terceira camada de tinta, o pigmento aplicado antes não sai facilmente com a pincelada, como no caso de outros papéis.

As manchas também mantém suas bordas definidas e sem infiltração (ou feathering, em inglês), facilitando o controle da pintura. Isso confere um aspecto geral de bom acabamento à aquarela, mantendo das características de transparência e nuances sutis de cores da técnica. As cores se misturam bem no molhado, e também se pode fazer dégradés com razoável facilidade.

Também é um papel que não se deforma tanto quando da aplicação de uma lavada de cor, com grande quantidade de água e tinta diluída, não tendo sido observados descolamentos da fita crepe que isola as calhas entre os quadros e prende a folha à prancheta.

É possível, nessa fase, usar um pincel limpo e úmido ou um lenço de papel para abrir luzes nas manchas coloridas sem grande prejuízo do papel. Isso é útil quando não se quer a influência tão forte do tom de fundo na figura, por exemplo.

Por último, o Fabriano 5 satinado 300g 50% algodão tolera sem grande prejuízo a retirada da fita crepe para isolamento/adesão da folha à prancheta. É claro que sempre se deve ter o cuidado de retirá-la depois que todo o trabalho está seco, o que se pode acelerar usando um secador de cabelos, e evitando puxões repentinos. Mesmo que a textura possa ficar um pouco alterada, não é algo que chegue a descaracterizar o papel ou inviabilizar seu uso para páginas de quadrinhos coloridas.

Portanto, este é certamente um papel que se presta muito bem ao processo tradicional de criação de histórias em quadrinhos. Os resultados finais das cores mantém um brilho e texturas lisas muito agradáveis e delicadas, mesmo após todo o processo de manipulação.

Deixe um comentário