Beco do Couto (atual Rua Senhor dos Passos)

Este beco estende-se das margens do Guaíba até o alto da Santa Casa de Misericórdia, trazendo hoje o nome que passou a ter a partir já da planta de 1868, “Rua do Nosso Senhor dos Passos” ou, de acordo com a planta de 1881, “Rua Senhor dos Passos”. Estende-se sobre o relevo portanto como travessa de ruas longitudinais, obedecendo ao traçado típico do urbanismo colonial português.

Segundo Achylles Porto Alegre (1940), o nome deste beco vem “do nome de um velho Couto. A outra denominação veiu do facto de ahi haver residido um tal João do Couto”1, e acrescenta que “ahi ha o becco da Pulga”2. Este Beco da Pulga é também mencionado3 por Pesavento (1998), mas não parece estar indicado nas plantas da cidade que foram examinadas. Provavelmente, trata-se de um trecho do Beco do Couto.

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Figura 1: O Beco do Couto na Planta de Porto Alegre de 1868. Marcação em vermelho da pesquisadora

 

Por estar nos limites do núcleo urbano durante os seus primórdios, Coruja relata que o Beco do Couto tinha inicialmente uma ocupação muito escassa:

“Em terrenos contíguos da chácara da Brigadeira e de Antônio Pereira do Couto havia uma estrada, viela, ou atalho, que dava caminho da Caridade para a praia, e que não tinha o nome de rua por não ter casas laterais [grifo da pesquisadora]. Edificadas algumas casinhas[grifo da pesquisadora], foi para uma delas morar um cordoeiro chamado João, conhecido por João Cordoeiro, que deu à rua o nome de Beco do Cordoeiro, que mais tarde se veio a chamar de Rua do Senhor dos Passos.”4

Sua posição nos limites da cidade durante os primórdios da ocupação urbana é atestada também por Achylles Porto Alegre:

Pela rua do Senhor dos Passos corria a cerca velha de tunas, maricás e unhas de gato que fechavam o tapume da chacara e o tornava impenetravel. Para guardar a propriedade da dona das terras ahi nos fundos morava numa palhoça á sombra de umas árvores, um aggregado de confiança. […] Toda aquella enorme area comprehendida entre as ruas da Conceição e Senhor dos Passos fazia parte da chacara da Brigadeira com todo o peso das ruas fortificações extendidas pelo morro abaixo e que vinham a expirar alli, em frente á capella do Senhor dos Passos.5

De fato, é manifesta na planta de 1868 (fig. 1) a posição do antigo Beco do Couto em uma área com características ainda mais rurais do que urbanas.

Franco (1988) relata que “a Estatística Predial de 1892 encontrou 75 prédios construídos na rua, sendo 50 térreos, 14 sobrados e 11 assobradados”6, o que atesta a presença significativa de casas térreas nos becos, de modo geral. O mesmo autor acrescenta, a respeito da largura da via, que “o alargamento só veio a ser determinado pelo decreto de 4/2/1944, do Prefeito Antônio Brochado da Rocha: de 8,10m para 14,00m, mediante recuo progressivo das construções”7.

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Figura 2: Postas colorido do final do século XIX mostrando o beco do Couto com alguns sobrados e casas térreas. À direita, vê-se parte da Igreja Luterana. Fototeca do Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo/Acervo Prati.

Sobre a imagem da HQ:

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Esta imagem, integrante de uma página do primeiro volume da história em quadrinhos “Beco do Rosário”, traz a reconstituição visual de um espaço contíguo ao beco. A rua Senhor dos Passos aparece aqui em sua subida, já na década de 1920, nos anos que antecederam a demolição de seu lado oeste (aqui representado em perspectiva à direita). De fato, representa-se aqui a antiga igreja Luterana, que marcava a esquina da rua Senhor dos Passos com o beco do Rosário. Presume-se que muitas edificações encontradas nos dois espaços tenham sido semelhantes em dimensões, estilo e idade, o que serviu para preencher algumas lacunas nesta imagem, especialmente quanto ao desenho do lado oeste da Senhor dos Passos, demolido para dar lugar à Praça Otávio Rocha. Quanto ao lado leste, tem-se informação das fachadas e edificações aí existentes a partir de fotografias posteriores às reformas urbanas de Otávio Rocha, e que se procurou reproduzir nesta imagem. Vê-se também os equipamentos da época, como postes de iluminação e transmissão de energia elétrica, pavimentação e passeio, assim como os automóveis que começam a se fazer cada vez mais presentes nas imagens da cidade.

Bibliografia
1PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e oficialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 15.
2PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 15.
3PESAVENTO, Sandra Jatahy. Os pobres da cidade. 2. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade, UFRGS, 1998. p. 117.
4CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. pp. 119-120.
5PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 48.
6FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. pp. 382-383.
7FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. pp. 382-383.

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