BECO DA ÓPERA (RUA URUGUAI)

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Figura 1. Localização da Rua Uruguai em foto aérea atual de Porto Alegre (Google Earth).

Relativamente curto, indo da Rua da Praia para o Guaíba, o Beco da Ópera é uma transversal do espigão do centro histórico, como as ruas travessas do urbanismo colonial português (fig. 2). Segundo Franco (1988),

“Nasceu com desenvolvimento bem menor em fins do século XVIII, como um simples beco transversal à Rua da Praia, descendo desta via até o então chamado Porto dos Ferreiros, que correspondia aproximadamente ao litoral do rio, adjacente à atual Rua 7 de Setembro. E como aí se edificasse, em 1794, um barracão de madeira destinado a servir de teatro, que foi chamado sucessivamente de Casa da Comédia e de Casa da Ópera, a rua ganhou o nome popular de Beco ou Rua da Casa da Ópera.[1]”

A respeito da Casa da Ópera, o relato de Coruja (1983 [1881]) traz mais detalhes:

Pouco tendo a dizer deste beco, falarei do teatro que lhe deu o nome. Era este de pau a pique com entrada geral pelo lado do rio e entrada particular para a caixa do teatro pelo lado do beco, contendo duas ordens com 36 camarotes. […] Com o correr dos tempos o teatro que era de pau a pique também foi a pique, edificando-se sobre o seu terrenos algumas casinhas [grifo da pesquisadora] transformadas hoje em dia em lojas de fazendas. […] Quem conheceu o triste e mesquinho Beco da Ópera de outros tempos, e vê hoje as casarias da Travessa do Comércio, não pode deixar de exclamar: – Quem te viu e quem te vê![2]

Já Macedo (1993) traz a explicação para o nome “Beco dos Ferreiros” no desenvolvimento da cidade:

“Pouco a pouco novas áreas vão sendo aterradas, surgindo o Beco dos Ferreiros, perpendicular à Rua da Praia e outra paralela a esta que seria mais tarde a Rua 7 de Setembro. Na esquina delas se instalou importante ferraria que fabricava peças para montaria e atendia aos estaleiros próximos.”[3]

O desenvolvimento e enriquecimento deste logradouro, ressaltado acima por Coruja (1983 [1881]), também é confirmado por Achylles Porto Alegre (1940): “É interessante de ver-se como algumas das nossas ruas importantes, tinham na cidade velha a denominação de beccos. Entre outras, que nos occorre está a do Commercio (fig. 3), que se chamava becco da Opera […][4] . Esse cronista traz ainda em suas memórias a referência a um armazém de comércio de tecidos na então renomeada Travessa do Comércio, indicando uma etapa da mudança de status do beco:

“Em 1866, o cholera morbus invadiu a nossa cidade, espalhando o terror por toda a parte. E não era para menos. Em 1855, a mesma peste devastara impiedosamente a população. Deante, pois, do seu reapparecimento o povo acobardou.
Entrettanto, o velho Ladeira e mais meia duzia de abnegados, com despreso da própria vida, tomaram conta da enfermaria que o governo installára, na recrudescencia do mal, na rua do Commercio, si não me engano, naquelle predio onde tem a sua loja de fazendas o Sr. Marianno Cunha [grifo da pesquisadora].
Foram collocados n’aquelle armazem umas quantas camas, e logo occupadas pelos cholericos que iam cahindo pelas ruas.”[5]

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Figura 2. O Beco da Ópera em fotografia de fins do século XIX (Passavento, 1992, p 42)
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Figura 3. Postal da “Rua do Comércio”, início do século XX. Fototeca Sioma Breitman do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

De fato, a partir desta década Franco (1988) detalha essa evolução ao longo do século XIX, em que a proximidade com o porto e as reformas portuárias da gestão do Intendente José Montaury viriam a acelerar no início do século XX:

A partir de 1860 (ata de 26/abr.), já estando definida e urbanizada a atual Rua 7 de Setembro, marcou-se o alinhamento do Beco da Ópera para além daquela, em direção ao rio, que começava a regredir, por força dos aterros continuados. Mas, por esse tempo, toda a área se transformara, desaparecera o Porto dos Ferreiros, e sua vocação comercial se acentuara decisivamente. Isso explica a resolução da Câmara Municipal, em 18 de setembro de 1869, determinando que o Beco da Casa da Ópera passasse a denominar-se Rua do Comércio, sendo, logo em seguida, posta em arrematação a obra de seu calçamento. Como Rua do Comércio, prolongou-se até a Rua das Flores, hoje Siqueira Campos, viu nascer à sua frente o Paço Municipal, no princípio deste século.[6]

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Figura 4. Anúncio do Banco da Província na revista “A Máscara” de 01/01/1925. Hemeroteca do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.
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Figura 5. “Aspecto da Rua Uruguay” – Recordações de POrto Alegre. 1° Centenário da Epopeia Farroupinha”. Porto Alegre. Globo, 1935. (Possamai, 2005, p. 182)

Por fim, o mesmo autor ainda acrescenta que “[…] o que foi uma travessa de ferreiros, depois um centro de comércio lojista de fazendas, apresenta-se hoje como uma rua de bancos e de financeiras.”[7] Vê-se em anúncios de imprensa o Banco da Província (fig. 4), situado do lado Oeste da esquina entre a Rua Uruguai e a Rua Sete de Setembro, bem como importante comércio (fig. 5). Do lado Leste desta mesma esquina havia a lotérica “Club Excelsior” (fig. 6 ), que se anunciava como a primeira do Estado:

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Galeria de fotos do Beco da Ópera/Rua Uruguai

REFERÊNCIAS:

[1]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. pp. 412-413.

[2]CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. p. 116

[3]MACEDO, Francisco Riopardense de. História de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS, 1993. pp. 34-36.

[4]PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 55.

[5]Op. cit. pp. 206.

[6]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. pp. 412-413.

[7]Op. cit. pp. 412-413.

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