As linhas retas, dinâmicas e a decoração geométrica e sóbria pareciam ser arrojadas demais para o gosto porto-alegrense ainda no final da década de 1920, e podemos ver isto na fachada desta ‘construcção moderna’ que estampava a edição de 30/5/1930 do jornal Estado do Rio Grande.
Se de fato era moderno – moderníssimo – no sentido de que fora erguido com estrutura de concreto armado, com cinco andares e certamente instalações de saneamento e ventilação muito superiores às do Café Paulista, demolido para dar-lhe lugar, este belo prédio trazia em sua fachada o apego à ornamentação clássica. Aberturas em arco, elegantes decorações emoldurando janelas, cornijas no topo e rusticações na sua base, tudo cobrindo a extensão vertical da fachada e dando um ar de século XIX a uma construção do século XX. Afinal, a verticalização em prédios cada vez mais altos já havia começado, e anunciava um novo momento para a paisagem urbana.
Além disso, o autor apontava para o efeito benéfico do novo prédio, construído rapidamente, também para a paz da vizinhança: com o extinto Café Paulista também iam embora os jogadores (?), que certamente não eram bem vindos naquela Andradas elegante, moderna e trabalhadora.

“As construcções modernas[1]
Acha-se concluido mais um grande edificio de cimento armado, à rua dos Andradas
Possue elle cinco andares, sendo que os tres ultimos são destinados á residência de famílias
Encarregaram-se da construcção os engenheiros Haessler e Woebcke
Vão aos poucos desapparecendo da nossa principal artéria os velhos e anti-esthéticos casarões para darem lugar às modernas construcções.
São innúmeros os palacetes construidos recentemente em Porto Alegre, entre os quaes destacamos os que se encontram à rua dos Andradas, de mais de cinco andares: o edifício Chaves, o Grande Hotel Schmitt, os edifícios Luis Chiaradia e Previdência do Sul, este de doze andares e muitos outros.
Temos a registrar, hoje, a construcção de mais um bello edifício, à rua dos Andradas, de propriedade do dr. Gastão de Oliveira.
Existia naquella via pública, como se sabe, um velho casarão, onde se achava installado o ‘Café Paulista’, centro de reunião de jogadores.
Esse prédio infecto foi posto abaixo, surgindo, em sua substituição, o edifício moderno, que se vê no ‘cliche’ acima.
Foram encarregados da construcção do novo prédio os engenheiros Haessler e Moebcke [sic], estabelecidos à rua Voluntários da Pátria, nº 142.
As obras foram iniciadas a 1º de novembro do anno passado, estando já concluidas.
O novo prédio tem cinco andares e é de bello aspecto, sendo construido de accôrdo com os requisitos da hygiene moderna.
Tem elle uma entrada lateral, destinando-se o segundo andar para consultórios médicos, escriptórios de corretores, advogados, etc.
Os demais andares foram construidos especialmente para residencia de familias, possuindo, cada um delles, 7 peças – sala, gabinete, quarto, cosinha e sotéias[2].
O edificio possui elevador e é todo de cimento armado.
As paredes externas são impermeabilizadas contra a humidade, de módo a garantir um prédio inteiramente secco.
A sua construcção levou cinco meses.”
Autoria desconhecida.

Referências:
[1] O Estado do Rio Grande, 30/05/1930, p. 6. Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. A grafia original foi mantida.
[2] O mesmo que terraços.
quem projetou o prédio?
adorei o blog.
Obrigada pela visita, Eneida, que bom que gostaste do blog! 🙂
Provavelmente foram os mesmos engenheiros mencionados na matéria que projetaram o prédio.