Selfie consultando exemplares do Diário de Notícias da década de 1930 no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Porto Alegre, 09/03/2022. Aniversário de dez anos do blog.

10 anos de blog Beco do Rosário!

Quando tive a primeira idéia de fazer uma história em quadrinhos sobre a história de Porto Alegre[1], lá em 2012, também veio a necessidade de voltar a estudar. Estudar e pesquisar, e pesquisar muito, pois eu ainda sabia pouco sobre a história da cidade. Esse processo apaixonante me levou ao mestrado no PROPUR-UFRGS, onde fui aos poucos “cavando” os acervos históricos atrás da memória de uma Porto Alegre que recém começava a se modernizar.

Esse caminho de descobertas também veio acompanhado de uma necessidade muito grande de documentar essa pesquisa e também compartilhá-la. É desse impulso que surgiu o blog “Beco do Rosário”, que há exatos dez anos ganhava, hesitantemente, seu primeiro post

A idéia era escrever sobre tudo que eu ia encontrando e aprendendo nas imersões que eu fazia nos acervos históricos de Porto Alegre, mas só muito recentemente consegui sistematizar esse trabalho. Desse modo, o blog tornou-se também uma forma de catalogar e fazer uma curadoria dessa busca do quotidiano da cidade nas primeiras décadas do século XX para depois transformá-lo em histórias em quadrinhos.

A técnica da narrativa visual eu já possuía, mas foi nessa caminhada que aprendi o método de pesquisa científica em História, que me fez também lançar um contínuo olhar crítico tanto sobre a literatura quanto as fontes que eu consultava. A mim nunca interessaram as mitologias criadas em torno do espírito gaúcho, tampouco os “grandes vultos” da cidade, frutos de uma historiografia tradicional e idealizadora. Como diz Aleida Assmann, “o espírito de pesquisador se desenvolve às custas de romper com a tradição de passados normativos e esquecê-la”[2]. Assim, busco as histórias das pessoas comuns e dos lugares desaparecidos da Porto Alegre que se transformava aceleradamente nos anos 1920 e 1930, pois acredito que contar essas histórias estreita os meus vínculos com a cidade, bem como os de quem as lê.

Já temos bastantes histórias sobre Nova Iorque, Paris, Berlin. Acredito que, como autora brasileira, cabe a mim contar histórias do meu lugar. Porto Alegre mudou muito ao longo dos últimos cem anos, e muitos não a vêem como uma cidade histórica. Ainda assim, é cheia de histórias fascinantes esperando para serem recordadas, assim como tantas outras cidades brasileiras que merecem tornar-se personagens de histórias em quadrinhos, filmes, poemas, peças de teatro, literatura, etc. É um constante remar contra a correnteza da massificação dos produtos culturais e da consequente colonização dos nossos corações e mentes; é um contínuo combate da desvalorização da nossa identidade e cultura latino-americana, e por isso mesmo é um trabalho tão necessário.

Espero que o aniversário de dez anos desse modesto blog possa despertar outros autores e autoras do Brasil para as histórias de suas cidades, e que eles e elas possam sentir-se validados e encorajados a contá-las em suas obras.

 

Referências: 

[1] Beco do Rosário, lançado em 2020 pela editora Veneta.

[2] Assmann, Aleida. Espaços de recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2011, p. 337.

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